Proteção Contra Queda: Calculando a Zona Livre de Queda

Você acaba de receber seu novo cinto-paraquedista, talabarte e dispositivo de ancoragem. Os ensaios laboratoriais qualificam todos os elementos do sistema de proteção individual contra queda para garantir o atendimento das forças requeridas pelas normas.

PODEMOS DIZER ENTÃO QUE SEU SISTEMA DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL CONTRA QUEDA SE ENCONTRA SEGURO E COMPLETO?

Provavelmente não, se você não determinou o vão livre abaixo da sua superfície de trabalho, e não calculou sua Zona Livre de Queda (ZLQ) adequadamente, haverá possibilidade de lesões graves e até fatais em caso de uma eventual queda.

Saber como calcular a zona livre de queda é algo tão crítico quanto selecionar os equipamentos adequados, como por exemplo, cinto-paraquedista, talabarte, dispositivo de ancoragem e ponto de ancoragem. A zona livre de queda é definida pela soma da distância de queda livre somada a distância de atuação do absorvedor (A), comprimento do corpo do usuário (B), e a distância de segurança (C), sendo este último pelo menos 1 metro. A Zona Livre de Queda (ZLQ) pode ser calculada pela seguinte equação:

ZLQ = A + B + C

Antes de calcular a distância total de queda, devemos definir as variáveis utilizadas na fórmula apresentada acima.

DISTÂNCIA DE QUEDA LIVRE (A1): Distância vertical que um trabalhador cai entre o início da queda e o momento da retenção total do sistema. Para minimizar a distância de queda livre, sempre que possível procure usar pontos de ancoragem o mais acima possível do elemento de engate do cinto-paraquedista. Caso exista um único ponto de ancoragem possível, e se este estiver abaixo do elemento de engate do cinto-paraquedista, certifique-se que o elemento de ligação (talabarte, trava-queda deslizante ou trava-queda retrátil) seja o mais recomendado para a aplicação.

DISTÂNCIA DE ATUAÇÃO DO ABSORVEDOR DE ENERGIA (A2): Distância de desaceleração necessária para dissipação de energia gerada durante a queda livre.

A distância de desaceleração que cada absorvedor de energia irá permitir é normalmente indicada na etiqueta do produto.

COMPRIMENTO DO CORPO DO USUÁRIO (B):
Distância entre o elemento de engate (frontal ou dorsal) de retenção de queda do cinto-paraquedista e os pés do usuário.

DISTÂNCIA DE SEGURANÇA (C): Distância adicional para garantir que haverá um vão livre abaixo da superfície de trabalho. Esta variável deve ser no mínimo de 1 metro, mas pode ser qualquer valor que permita conforto e confiança ao usuário do sistema.

Para ilustrar, vamos discutir o uso dos seguintes equipamentos:

✓Cinto-paraquedista (Sem elasticidade)
✓Talabarte com comprimento total de 1,2 metros.
✓Absorvedor de energia com extensão de 1,2 metros após acionado.
✓Corpo de prova com massa de 120Kg.
✓Conector rígido de ancoragem
(Exemplo: um olhal fixado em umaestrutura viga I).

Na figura 2, podemos ver um trabalhador usando um talabarte com absorvedor de energia em cima de uma plataforma. O talabarte está conectado em um ponto de ancoragem em uma altura abaixo da altura do elemento de engate dorsal do cinto paraquedista, com isso, sua distância de queda livre será maior que se tivesse ancorado acima da cabeça. Neste exemplo, vamos assumir que o profissional está trabalhando de forma curvada e sua ancoragem esteja em ponto próximo aos pés do profissional.

I.Ponto de ancoragem: Para cada 30 cm queoponto estiver acima da atual posição, 30cm são deduzidos na distância de quedalivre (vide tabela 1).

II.Ponto de ancoragem: Para cada 30 cm queoponto estiver abaixo da atual posição, 30
cm são adicionados à distância de quedalivre (vide tabela 1).

Utilizando este cenário do ponto de ancoragem estar próximo ao chão, se o trabalhador cair a sua distância de queda livre (A1) contando a partir da distância abaixo da superfície de trabalho será igual ao tamanho do talabarte, no caso, 1,2m.

A próxima variável a ser considerada no cálculo é a distância de absorção (A2). Como todos os produtos produzidos são levemente diferentes, certifique-se de ler a etiqueta do produto escolhido para determinar a distância de absorção máxima. Nesse exemplo, vamos considerar um talabarte com abertura máxima de 1,2 metros após acionado (vide Tabela 1 – Nota 1).

ZLQ = 1,2m + 1,2m + B + C
ZLQ = 2,4m + B + C

A variável “B” mostrada na Figura 1 no início do artigo, faz referência ao comprimento do corpo do usuário. Esta variável indica conforme comentado anteriormente, a distância entre o elemento de engate do cinto-paraquedista pelo qual o trabalhador está conectado até seu ponto mais baixo do corpo que são seus pés. Este valor de distância é padronizado normativamente em 1,5m. Desta forma, a equação ficará da seguinte maneira:

ZLQ = 2,4m + 1,5m + C

Antes de falar sobre a distância de segurança, existe outra variável que pode ser computada no cálculo chamada de alongamento vertical, a qual é considerada em normas estrangeiras, no entanto, a maioria dos fabricantes projetam os absorvedores de energia para que o alongamento vertical dos talabartes seja incluído na distância máxima de absorção.

Neste artigo, por retratar uma situação vivenciada dentro do cenário de trabalho no Brasil, a distância de alongamento de fato está inclusa na distância máxima de absorção (A2). Contudo, caso seja utilizado um trava-queda de corda, linha de vida horizontal ou qualquer outra ancoragem flexível, existe a necessidade de considerar o alongamento vertical baseado nas especificações do sistema de ancoragem.

Como estamos utilizando um talabarte com absorvedor de energia de 1,2 metros no nosso exemplo e o alongamento vertical já está sendo considerado no comprimento do talabarte, vamos desconsiderar esta variável. A última variável da equação é a distância de segurança. Para este é atribuído o valor de 1m.
Agora podemos descobrir a zona livre de queda necessária:

ZLQ = 2,4m + 1,5m + 1m
ZLQ = 4,9m

Agora sabemos que caso o trabalhador da Figura 2 venha a sofrer uma queda, a zona livre de queda precisa ser de 4,9m para uma operação segura. Mas qual o significado deste número? O número mostra que a distância entre a superfície de trabalho e o objeto mais próximo deve ser de pelo menos 4,9m.
É essencial lembrar que a zona livre de queda nem sempre é medida da superfície de trabalho até o solo, uma vez que o solo pode não ser a objeto mais próximo da plataforma.

No caso de algum objeto estar no caminho até o solo, a zona livre é medida da plataforma de trabalho até o topo do objeto. Algumas vezes essa distância pode ser bem pequena, nestes casos, deve-se utilizar um equipamento diferente de um talabarte com absorvedor de energia. Como exemplo, pode ser citado o MINI TRAVA-QUEDA RETRÁTIL V-TEC, por exigir uma zona livre de queda menor por conta da forma de atuação do sistema.

O cálculo da zona livre de queda pode ser mais complexo do que o demonstrado aqui. As variáveis e números irão mudar dependendo do tipo de sistema de retenção de queda utilizado. Por exemplo, quando é calculado a ZLQ para sistemas de ancoragem horizontal flexível, outras variáveis devem ser consideradas, como a deflexão do cabo e o número de usuários do sistema.

Calcular a zona livre de queda é tão importante quanto selecionar o produto correto para a aplicação. Negligenciar o cálculo da zona livre de queda é tão arriscado quanto não vestir seu cinto-paraquedista para trabalhar em altura.

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